Tuesday, September 26, 2006

Trabalho de campo no campo

A expressão “trabalho de campo” é utilizada em dois sentidos: trabalho de campo – a apanha da uva; trabalho de campo – a recolha de informações antropológicas.

A vindima (colheita da uva), para aqueles que não sabem, é um dos processos pelo qual a uva sofre até chegar á mesa de cada um.

Sábado, 23 de Setembro
07h30 o dia começa com o pequeno-almoço e com os preparos especiais com a indumentária. As galochas e os impermeáveis são vitais para o dia que se adivinhava chuvoso.

Depois de chegar à quinta fui apresentada á tesoura e às uvas – jacques, morangueiro, americana, alvarinho e du sal. (Peço desculpa se as espécies das uvas estiverem mal escritas, mas na verdade recolhi a informação oralmente e com sotaque do norte á mistura). Se hoje me colocarem um cacho de uvas à frente e me pedirem para distingui-las, saberão porque desde o início andei acompanhada e porque me limitaram a zona de acção.

Por certo a colheita da uva é um acontecimento que todos descrevem da mesma forma – com muito trabalho. Contudo a apanha da uva, na qual participei foi particular porque manifestou aspectos que relembrei da leitura dos filhos de Adão, filhos de Eva de João Pina de Cabral.
“Os laços de parentesco não desempenham um papel fundamental nas relações de cooperação estabelecidas entre casas…Os amigos associam-se no trabalho e no lazer. ” (1986:181)
“Quando um amigo nos pede um favor que podemos satisfazer, é preciso ajudá-lo, porque sabemos que, se um dia nós lhe pedirmos alguma coisa, ele nos ajudará.” (1986:179)

Éramos bastantes, mas a família não era a maioria, foram os vizinhos que se predispuseram a ajudar, vieram de várias casas.

Em Monção a uva já não é pisada, possuem máquinas que esmagam a uva, mas ainda tive o prazer de em Arcos de Valdevez ver a minha tia pisar a uva dela “porque dá mais sabor”. Perguntei, “tia, mas as mulheres podem pisar a uva?”
Ela respondeu-me: “podem, mas não devem…” e eu pensei “claro a mulher é impura”
E a minha tia continua: “já viste que os homens ficam despidos dentro da lagar, a mulher não se pode despir” e eu pensei, “ai, Marta não compliques o que é fácil de perceber.”

A minha tia para pisar a uva dela comprou um fato completo, incluía botas, e era de borracha, com ele entrou no lagar, mais que vestida e protegida.

Uma vizinha contou-me:” Mas sabe que faz bem pisar o vinho, havia aí um moço que sofria dos ossos, e o pai lembrou-se de o colocar a pisar a uva, nunca mais padeceu…o vinho faz bem aos ossos.”

E eu pensei o vinho faz bem a muita coisa, até faz acreditar

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