Tuesday, May 16, 2006

E nós?

Para os leitores menos conhecedores do percurso da antropologia, gostaria de elucidar que os antropólogos estão associados ao colonialismo, assim como o sal está associado à água do mar.
A verdade é que os países colonizadores pretendendo mostrar interesse para com os povos colonizados, pediam aos antropólogos (entre outros cientistas sociais) a realização de trabalhos de observação. Esses trabalhos (monografias) deveriam descrever a realidade local e o resultado dependia do rigor do antropólogo, ou do governo. Enfim…
O caso que me fez parar e pensar, relaciona-se com o trabalho que estou a desenvolver sobre o Ruanda.
O governo belga (colonizador) quando chegou ao Ruanda tentou recolher a história daquele povo, das suas três castas: Tutsi, Hutu e os Twa. Só esta classificação daria uma longa dissertação.
Contudo o que eu quero mencionar é que talvez por falta de rigor, por falta de vontade ou mesmo por muita ignorância foram feitas três coisas:
1º Ocupação de um território que não lhes pertencia.
2º Construção de uma história de dominação (os Tutsis como superiores aos Hutus).
3º Perante um genocídio, assim como aconteceu nas Américas, no Oriente e até na Europa (o Holocausto), assim como aconteceu e acontece, novamente ninguém viu.

O genocídio foi em 1994, mas foi hoje que eu chorei ao ver o filme Shooting Dogs, tenho pena que tenha acontecido, mas aconteceu…
Eu espero que a antropologia possa aprender com o seu passado, o que fez de bom e o que fez de mau, e que os seus seguidores saibam reflectir para não caírem nos mesmos erros. Rigor, exactidão e imparcialidade, claro nunca esquecendo “o diário de campo”, devem ser as nossas armas.
Se temos que errar, comunidade antropóloga, ao menos que o erro seja diferente, há tanto por onde errar e aprender. E ainda bem que existem essas oportunidades, para nós as aproveitarmos. Como diz a última frase do filme:” Todo este tempo que temos (que nos foi dado), temos de o usar bem.”

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