Tuesday, June 13, 2006

Cheira Bem, Cheira a Sardinha, manjerico e alecrim!

Junho é o mês dos arraiais, das marchas, das sardinhas e dos manjericos – em duas palavras: é o mês dos Santos Populares. Todo o país, com destaque para Lisboa e Porto, vive com mais alegria, celebrando casamentos e prolongando as conversas até de madrugada, bem regadas com vinho carrascão e acompanhadas das populares sardinhas.No entanto, a comemoração de três santos católicos é apenas um pretexto para estas festas populares. Muito antes de Jesus Cristo já o povo festejada nesta altura do ano, celebrando o Solistício de Verão. Era altura para saudar a proximidade das colheitas, para fazer sacrifícios em prol da fertilidade e para afastar as doenças e a seca. Pensa-se que as tão populares fogueiras têm origem na celebração da deusa romana Vesta, guardiã do lar e do fogo. A Igreja não conseguiu pôr fim a estas festas pagãs e, como solução, transformou-as em católicas. Santo António, São João e São Pedro, qual deles o mais festeiro, distinguem-se pelo percurso das suas vidas, mas reúnem-se, em Junho, nas festas populares. Junho é também o mês das marchas populares, aparecerem muito ligadas à política do Estado Novo e a reflectir a idiossincrasia desse período, que privilegiava a cultura do bairro, muito presente no cinema que se criou então onde figurava Leitão de Barros. A ideia das marchas é dele, de 1932, mas as primeiras Festas de Lisboa ocorreram em 1934, com um papel mais interventivo de António Ferro. Mas, de facto, o que é curioso é que, tendo nascido dessa forma, tendo vindo de cima, os bairros apropriaram-se das marchas, entranharam-nas na sua cultura e transformaram-nas num fenómeno de afirmação de identidade, com palavras de ordem que se gritam numa competição que tem que ver com rivalidades antigas. As marchas, e todo o processo que lhes dá origem, são um elemento de coesão que se prolonga o ano todo e não apenas nos dias que antecedem o desfile. Actualmente, por detrás de algumas marchas há máquinas montadas com alguma dimensão, onde o mérito é reconhecido e os talentos cobiçados por todos. Numa perspectiva antropológica sobre estes fenómenos sociais e culturais Eric Hobsbawn diz "tradição inventada entende-se um conjunto de práticas normalmente reguladas por regras tácita ou abertamente aceites; tais práticas de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente; uma continuidade em relação ao passado." Não obstante, apesar da confusão, da invenção, do sufoco claustrofóbico, dos preços, é bonito ver as luzes, sentir os cheiros e estar com amigos.

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